Este Blog tem por função abrir reflexões e visibilizar o que se produz de arte contemporânea na Bahia. Sua estratégia principal é criar interlocuções entre artistas, críticos, curadores, poetas e pensadores da cultura de variados eixos de interesses. Este espaço será depositário de variadas formas de pensamentos que ajudem na compreensão dos processos contemporâneos que formam o perfil das ações culturais baianas e suas significações dentro do panorama brasileiro. Vauluizo Bezerra

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

No Brasil, todas as linguagens contemporâneas estão em evidência, com nossos artistas expondo inclusive no exterior. Valorizar uma em detrimento da outra, seja por qualquer motivo, inclusive político, é um equívoco. Não respeitar e excluir os artistas que no passado remoto ou recente deram ou continuam dando uma grande contribuição à arte e cultura local, com certeza, é uma atitude intolerável de censura. É uma atitude inconcebível numa democracia. Entretanto é passageira, porque ela não destrói a obra, apenas a ignora. Por isso sempre digo e repito: o importante em qualquer artista é a sua obra. Se a obra foi elaborada dentro de uma linguagem contemporânea da época, com certeza ela já está na História, e permanecerá, mesmo que seja de um artista erudito, popular ou mesmo um artesão. Um bom exemplo é o pintor “naif” ou “primitivo” francês Henri Rousseau, chamado Le Doanier, por ser inspetor de alfândega. Podemos citar alguns pintores primitivos brasileiros que já estão na nossa história, como Heitor dos Prazeres, José Antonio da Silva, Cardoso e Silva, Silvia Leon Chalreo, Aurelino, João Alves, Manezinho Araújo e muitos outros. O que prevalece nos artistas eruditos, e nos primitivos, é que eles possuem uma obra. O que é mais importante em um artista é a sua obra. Esta é o que fica.

Foram os ditadores nazistas, fascistas e comunistas que tentaram destruir a arte contemporânea da época, no período em que exerciam o poder. Hitler mandou fechar a Bauhaus, a grande escola de design, e chamou a arte da época de “arte degenerada”. Ou na época de Stalin que, igualmente aos outros, decretou a arte realista como a oficial. Os artistas deviam exaltar o partido e seus governantes. Com isso a grande maioria teve de fugir para a França ou Estados Unidos, onde produziram suas obras, que hoje estão em diversos museus do mundo.

No período ditatorial brasileiro, sucedeu a mesma coisa. Muitos artistas, de várias linguagens, sofreram terríveis perseguições. Porém aqui não é o caso de detalhar, mas somente dizer que, hoje, muitos estão em evidencia no cenário da arte e da cultura no Brasil. Sendo que alguns são artistas eruditos que usaram a temática popular.

Em nosso país foram os literatos os primeiros a trabalhar a identidade cultural brasileira. Eles começaram pela transfiguração da cultura popular do Nordeste. José Américo de Almeida foi o primeiro com “A Bagaceira”, de 1928. Depois vieram muitos, entre eles, Jorge Amado, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Mario Sette, Ascenso Ferreira, Ariano Suassuna, Gilberto Freire, entre outros. Gilberto Freire, no livro “Nordeste”, usa pela primeira vez o termo ECOLOGIA e, com chamada de página, explica o seu significado. Ele denunciava o escoamento na natureza pelas usinas de açúcar, do vinhoto, que é um elemento venenoso. No meu trabalho e no de muitos artistas baianos, a preocupação é a mesma dos literatos. A minha geração, hoje chamada de “Geração MAPA”, tem, sobretudo, uma influência muito grande dos escritos de Mario de Andrade.

De Ildásio Tavares, em sua coluna na Tribuna da Bahia, em 27 de janeiro de 2007, transcrevo um pequeno trecho:

Estas duas culturas, que redundam afinal em se encontrar sob o conceito de cultura geral, devem conviver em pé de igualdade e se uma supera de muito a outra, deve-se buscar o equilíbrio. Principalmente porque uma vive da outra, uma se nutre da outra numa constante viagem dialética. A sexta sinfonia de Beethoven, chamada a Pastoral, nasce de uma canção popular de ninar. Villa-Lobos deu lições de brasilidade compondo em cima de nosso folclore, processo que Lindembergue Cardoso levou ao sublime.

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Não vamos citar a música popular e seus artistas por motivos óbvios. Citaremos apenas alguns músicos brasileiros eruditos que em sua obra transfiguram a arte e a cultura popular. Primeiramente Silvio Deolindo Froes, Heitor Villa-Lobos, Radamés Gnatalli, Guerra Peixe, para ficar somente nestes.

Dos artistas que tentam a transfiguração da arte e cultura popular em arte erudita, citarei apenas os pintores baianos Rubens Valentim, Chico Liberato, Calasans Neto, Juraci Dorea, César Romero, Murilo Ribeiro, Washington Sales, Chico Mazzoni, Sante Scaldaferri, Caribe, Jenner Augusto e o cearense que foi radicado em São Paulo Aldemir Martins e o pernambucano Francisco Brenand.

As novas tendências da arte internacionais sempre surgiram paralelamente em todas as linguagens, e no cinema, além disso, são adicionadas as novas tecnologias.



No cinema Glauber Rocha e Paulo Gil de Andrade Soares, Roberto Pires, Rex Schindler, Braga Neto, Luis Paulino dos Santos, Trigueirinho Neto, Oscar Santana, Guido Araújo, Tuna Espinheira, Agnaldo Azevedo, José Telles, Timo Andrade, Roberto Gaguinho, Lázaro Torres, Kabá Gaudenzi, José Walter Lima, André Luiz de Oliveira, Álvaro Guimarães, Zé Humberto Dias, Olney São Paulo, Conceição e Orlando Senna, Geraldo Sarno, Fernando Coni Campos, José Frazão , Pola Ribeiro, Fernando Belens, Edgard Navarro, Jorge Felippi, Joel de Almeida, Robson Roberto, Ailton Sampaio, Milton Gaúcho, Cícero Bathomarco, Carlos Modesto, Virgilio Carvalho,Marcus Sergipe, Alba e Chico Liberato, Wandeoursen, Lucio Mendes, Roque Araújo, Alonso Rodrigues, Edyala Iglesias, Roberto Duarte, Monica Simões, Solange Lima, Adler Paz, Lula Oliveira, Kiko Povoas, José Araripe.

Se faltar alguém, me desculpem. Velho esquece das coisas.

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Nunca coordenei campanha angariando trabalhos de artistas para serem leiloados em favor de campanhas governamentais visando cargos futuros. Nunca fui da “copa e cozinha” de nenhum governador, nunca “puxei o saco” de nenhum político poderoso na época, nem de empresas e empresários, bancos e banqueiros, para aparecer ou vender meus trabalhos. Nunca fui pedir a ninguém para comprar meus quadros e nem para fazer painéis ou murais. Os que realizei foram sempre a convite de pessoas sensíveis e que conheciam o valor do meu trabalho. Acho que o artista deve ter e manter a dignidade.

No princípio de minha carreira, logo após me formar, para não corromper minha pintura fazendo concessões, elaborei os projetos, implantei e dirigi Centros Artesanais. No SESI – Serviço Social da Indústria – foram dois, um no Largo do Papagaio, na Cidade Baixa, em um casarão do século XIX, e outro no bairro do Retiro, em prédio construído especialmente para as atividades sociais.

Outro no SESC – Serviço Social do Comércio, no Bairro de Nazaré, e, por último, no IPAC Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia, localizado no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, no início de sua instalação, convidado pelo antropólogo Vivaldo Costa Lima. Graças ao seu apoio consegui contratar os professores de artesanato da Escola Parque, dirigidos pelo professor de Artesanato, Arquimedes Gonçalves. Ali, além da parte de técnicas, fizemos um excelente trabalho social com a população local, principalmente com as crianças.

Consegui meu lugar na história da arte da Bahia às custas exclusivamente de meu trabalho. Sempre participava de Salões em diversos estados. A princípio cortado. Com o tempo, participava e ganhava prêmios. Assim a crítica nacional tomou conhecimento de meu trabalho e fiquei conhecido no país. Depois apareceram os primeiros convites para exposições em galerias do país. Nunca “folclorizei”, nunca fiz “xerox” de minha própria obra e nunca repeti ad infinitum meu trabalho. Nunca fiz trabalhos de fácil leitura com o fito comercial. Nunca fiz trabalhos anedóticos. Não trabalho na “Estética da Norma”.

No processo evolutivo da arte, passou-se, além do belo, a tratar de outros temas mais complexos, que na sua forma podiam ser chamados de feios na antiga visão. Mas a arte, bela ou feia, deve transmitir ao espectador uma emoção. Todo artista expressa, por qualquer meio ou linguagem, o que se passa em sua mente, na sua alma. Em sua criação, ele materializa a sua visão de mundo. Um artista é um visionário, ele vai além do cotidiano, ele prevê o futuro.

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