Este Blog tem por função abrir reflexões e visibilizar o que se produz de arte contemporânea na Bahia. Sua estratégia principal é criar interlocuções entre artistas, críticos, curadores, poetas e pensadores da cultura de variados eixos de interesses. Este espaço será depositário de variadas formas de pensamentos que ajudem na compreensão dos processos contemporâneos que formam o perfil das ações culturais baianas e suas significações dentro do panorama brasileiro. Vauluizo Bezerra

sábado, 10 de setembro de 2011

TWINS

Twins - Resina e lente fotográfica. 2010

Hoje, dia 11 de setembro, dez anos do atentado contra as torres gêmeas, o Word Trade Center em Nova Yorque,
Este foi um fato estarrecedor para todos, especialmente para mim como artista visual, que naquele
dia fui acordado `as 10 horas da manhã pela minha amiga e psicanalista Jacinta Ferraz, me
sugerindo dramaticamente que ligasse a tv. O fiz ali mesmo na cama sob os efeitos de algumas
garrafas de vinho consumidas na madrugada do dia. Me defrontei com as imagens num misto de
incerteza pelo torpor do sono e os efeitos de Baco. Pensei tratar-se de de imagens ficcionais que
lhe interessava (Jacinta) falar - como fazemos sempre - e muito das nossas conversas sobre cultura
ou psicanalise de extensão a qual ela me subsidia de importantes conceitos sobre o estruturalismo
de Jacques Lacan.
Quando percebi o significado grave do que assistia, rumei `as pressas para casa de Jacinta que
demandava apenas atravessar a avenida Centenário, e lá continuei a assistir as intermitentes imagens
transmitidas pela CNN via Globo, tomando café e pão de queijo quando presenciamos em tempo real, o alboroamento do segundo avião.

Aquelas imagens eram estarrecedoras, ao mesmo tempo possuíam algo de sublime, como a erupção de um vulcão - como o Vesuvio que destruiu Pompeia, ou as reações em cadeia das seis torres de usinas nucleares recentemente ocorridas no Japão.
O que nos atrai para as assombrosas produções hollywoodianas sobre gigantescos maremotos provocados por gigantes asteroides que se abatem sobre nosso planeta, ou o repentino desaparecimento dos dinossauros? Porque as grandes tragédias possuem este atrativo, o que nos faz ter essa relação pelo horror, esse pendor para um certo prazer oculto, misturado ao espanto, ao medo, a uma espécie de flerte com a morte como expectador de tragédias reais e virtuais? E, nestes tempos em que as distancias são diluídas e as imagens reproduzidas incansavelmente no instante presente - o que nos torna assíduos aficionados de um teatro de horrores montado a altos custos ao tempo que geram muito mais altos lucros? Estas respostas no plano simbolico estão entrelaçadas de algum modo `a fuga de nossa finitude, `a condição humana em sua relação com a morte toscamente elaborada. Espetacularizar uma guerra, como a do Golfo, associando-a `as virtualizações de um viedeo-game é no mínimo sublimar os horrores de ocorrências in loco encarando uma tragédia como um espetáculo vislumbrado pela morbidez já anunciada pelo gosto romano no circo das arenas e seus gladiadores.

Desde As Cruzadas e Saladino, a contenda cristã-mulçumana tem produzido terríveis efeitos no currículo humanitário das civilzações e suas diferenças culturais. Mas a supremacia do progresso ocidental e sua orientação do lucro como pensamento ordenador de uma civilização que tenta pasteurizar o mundo pelo poder do lucro e o cajado da democracia, tem produzido terríveis distorções políticas, culturais e religiosas. Vale ressaltar que esta abordagem sobre tais assuntos não passam de uma simplificação, reducionismo que não quer elucidar as complexidades que o tema demanda. Apenas me posiciono como artista que sofreu os efeitos do 11 de setembro como um fator paradigmático que mudou em muitos sentidos o curso do que produzo.

Como artista, meu pensamento sobre o mundo sofreu um deslocamento importante. Produzo há dez anos ininterruptamente imagens, esculturas, textos, e toda espécie de mídia que me permita reflexões sobre este estado de intolerância que se abate sobre o mundo em nome das diferenças religiosas, territorialidade, politica e economia.
Com o fim das polaridades ideológicas Russia/EUA, nasceu o que chamo ironicamente de Concílio de Washington onde surge as orientações da cartilha da globalização, uma potente camisa de força embutida na idéia de progresso disseminado ao planeta como uma promessa remissiva dos problemas sócio - economicos do mundo. Assistimos a radicalização da idéia de progresso que em realidade sancionou a lucratividade especulativa de poucos. Ao resto do mundo sobrou as repressões crescentes dos ideários do politicamente correto cobrando um alinhamento ecológico e comportamental cujas orientações nenhum país rico sanciona sua inclusão nas próprias recomendações.
Do ponto de vista da cultura, a máxima de Fukuyama traduz de certa maneira a arrogância inscrita na idéia da globalização. A morte da história, a morte da cultura, a morte da arte, são axiomas de achatamento em nome de um suposto caráter homogênio da civilização ocidental e seu desejo tentacular de amarrar o mundo. Esqueceram que os bárbaros que produziram o espetáculo mórbido que conferiu poder hegemônico e muito dinheiro `a CNN, são egressos dos mesmos povos que inventaram a escrita, a matemática, dominaram os metais, inventaram a biga, as mil e uma noites.
A imagem postada acima, é uma escultura de minha lavra, entitulada Twins. Pretende aludir iconográficamente a Venus de Millus reconhecida por sua ausência de braços perdida na história. É imagem que pretende aludir o 11 de setembro, que busca reinscrever a história, reintroduzindo o pedestal, o tempo e o simbólico da perda, assinalar que a cultura ainda é agenciada por pensadores reativos, sublinhar que a presença quase insuportável de conceitos como Diferença, Outro, Multicuturalismo e de gênero, etc., é um sintoma que se dramatiza em presença massiva há exatos dez anos para cá. Outra apropriação de tonus mais forte que preferi não postar por estar incluido na minha próxima mostra em 2012, se trata da imagem do Duplo Elvis, apropriada por Andy Warhol de um still de um filme que Elvis Presley protagoniza como ator: um cowboy que aponta sei colt 45 para o expectador. Aqui entro suprimindo seus braços e inclinando seu tronco `a maneira da Venus aqui aludida. Um cowboy sem braços, de coldre vazio, impotente e exposto em pedestais clássicos, ironia sobre a arrogância, e solidariedade sobre a perda de um povo que pode estar aprendendo que a força pode ser revertida contra si mesmo, um princípio do karatê japonês, que já acenou a este mesmo povo que a potência do progresso pode ser uma arma letal contra si mesmo, e a atual situação economica deste povo significa um tiro no próprio pé que pisou tantos, omitiu-se a outros, como os africanos e sua fome, suas guerras, que por nada possuírem nenhum interesse resvala.
Winston Churchill defendeu sua crença nos americanos por ocasião do Crack dos anos trinta. Dissera, que os americanos sempre encontram a solução para os problemas, mas antes, esgotam todas as possibilidades de erros.
O 11 de setembro é ferida aberta pelos erros americanos. Saddam Hussein foi enforcado, e o povo iraquiano se dizima aos poucos. Os americanos estão ainda esgotando os erros. Ansiamos que se encontrem logo com o acerto, porque o que sofrem hoje são leis de causa e efeito.

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