Este Blog tem por função abrir reflexões e visibilizar o que se produz de arte contemporânea na Bahia. Sua estratégia principal é criar interlocuções entre artistas, críticos, curadores, poetas e pensadores da cultura de variados eixos de interesses. Este espaço será depositário de variadas formas de pensamentos que ajudem na compreensão dos processos contemporâneos que formam o perfil das ações culturais baianas e suas significações dentro do panorama brasileiro. Vauluizo Bezerra

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Oiticica - Julho de 1979 – Um Breve Depoimento

Festival de Inverno da Universidade católica do Recife, julho de 1979.

Entre os convidados, Hélio Oiticica para realizar experiências com “parangolé” e fazer uma rápida retrospectiva de sua obra através de slides. Eu estava no festival realizando uma pequena exposição que tinha um pé na arte conceitual e outro na arte construtiva, com o título “Manias de Narciso”, que muito impressionou o Oiticica. Conversamos muito sobre arte, a partir daí.



No seu trabalho com “parangolé”, queria um público da periferia, marginal, livre de influências culturais acadêmicas, já que via na marginalidade uma idéia de liberdade. Sem dúvida, era um inventor que mantinha certo domínio intelectual sobre seu próprio trabalho. Sabia o que queria e não queria fazer qualquer coisa. Uma noite circulamos pela periferia da cidade do Recife, na busca de uma escola de samba, Oiticica, Paulo Bruscky, Jomard Muniz de Brito e Almandrade. Uma aventura, papos e papos pela madrugada a dentro, de bar em bar nos arredores da cidade. A vida e a arte, os agitados anos de 1960, a mangueira, a tropicália, Londres, Nova York etc. A arte era, para ele, uma experiência quase cotidiana contra toda e qualquer forma de opressão: social, intelectual, estética e política. Na projeção de slides na Universidade Católica, as ilustrações dos papos da madrugada anterior, as imagens de uma obra que a arte jamais se livrará. Arte concreta, neo-concreta, penetráveis, ambientes coloridos, bólides, arte ambiental, tropicália etc.



No princípio era Mondrian, Malevith, depois Duchamp. Uma trajetória exemplar na arte brasileira. Uma tensão entre fazer arte e habitar o mundo. Foi assim, uma das últimas performances do Hélio. Quase oito meses depois, misturado com suas obras na solidão de um apartamento/ninho/penetrável, agonizou por três dias vítima de um derrame cerebral. Ficou a lembrança de uma brilhante e discreta presença num festival de inverno em pleno calor do nordeste brasileiro.





Almandrade

(artista plástico, poeta e arquiteto)



Suplemento Literário, Belo Horizonte, novembro de 1997

3 comentários:

  1. Bons tempos aqueles em que "paragonlé" estava mais para homo sapiens sapiens. Hoje, tenho dúvidas se agradaria ao homo neanderthalensis.
    Conheci o Almandrade na faculdade. Gente boa, inteligente, poeta inspirado e mais pacato que calmaria em alto mar.
    E você, camarada? O que anda fazendo? Trabalha na diária ou na empreita?
    Também tenho um blog, só que de literatura. Apareça lá. Pickwick é um pseudônimo.
    Um abraço,
    Guilherme Xavier

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  2. Grande Guilherme, os Parangolés de Oiticica cairam no gosto do "homo nihilensis", virou uma moda sauda-los com "Caramuru, Caramuru" , mas duvido que a grande maioria tenha a mínima distinção das combustões do saudoso Hélio.

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  3. A propósito, estive no seu blog, excelente, recomendo a todos, parabéns

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